Um dos maiores presidentes da Inter completa 91 anos

Um dos maiores presidentes da Inter completa 91 anos


A vida de Benedicto Iaquinta por si só daria um livro. Ele gosta de ser chamado de o “maior presidente da história da Internacional”, afinal de contas, foram 14 anos como principal mandatário do clube.

Iaquinta sempre foi um torcedor apaixonado pelo Leão. Em 1960, organizou um grupo de adeptos da Veterana e marcou uma assembleia para a escolha de um presidente. O eleito foi Jorge Abdalla.

Em 1961, a Internacional foi convidada para disputar o Torneio Amizade no interior paulista. Segundo Iaquinta, Abdalla criou um mal estar com o presidente da Federação Paulista de Futebol, João Mendonça Falcão. “O Jorge não se conformava que o Falcão não tinha interesse na Internacional disputando a Primeira Divisão. Ele convidada outros times da região, menos a Inter”, lembrou.

Desta forma, Abdalla teria feito duras críticas na rádio ao dirigente da entidade que comanda o futebol paulista. “O Falcão ficou sabendo e suspendeu nosso presidente por 30 dias”.

A Inter conquistou o torneio ao derrotar o Paulista, em Jundiaí, por 2 a 1. Mesmo suspenso, Abdalla recebeu o troféu de campeão. Falcão ficou ainda mais irritado com a desobediência do dirigente alvinegro e aumentou sua suspensão para 180 dias. Começava aí a “Era Iaquinta”.

Seu Benedito lembra que o técnico Gilson Silva morava na frente do Parking House, um famoso barracão de laranjas da época, cujo proprietário era seu Caetano Iaquinta, pai de Benedicto.

“A Inter estava sem um diretor de esportes, pois o Cássio, ex-lateral do Corinthians, decidiu deixar o clube. O Gilson me convidou para a função e eu aceitei”, lembrou.

Mas Iaquinta ficou pouco tempo no cargo. Como Jorge Abdalla estava suspenso e não podia exercer a função de presidente da Internacional, os dirigentes optaram pela realização de uma nova eleição. Foi então que Benedicto Iaquinta foi eleito em maior de 1961.

Na presidência

Sua primeira atitude foi fazer um raio x do atual momento da Internacional. Os salários de março e abril estavam atrasados. Mostrando ousadia, o dirigente contratou o Corinthians para um amistoso em Vila Levy.

“Paguei 300 mil cruzeiros na época e colocamos mais de cinco mil pagantes no estádio. Arrecadamos 800 mil com esse evento e ainda vencemos o jogo por 2 a 0, gols de Jurandir e Gury. Sendo assim, quitei os salários atrasados e ainda sobrou dinheiro para os meses seguintes”, lembrou.

A administração de Benedicto Iaquinta começou a ser elogiada pelos leoninos. No mesmo ano, a Internacional conquistou a Série Algodoeira, com a goleada sobre o Internacional de Bebedouro por 5 a 0.

Com o título conquistado, a Internacional ainda ganhou um aporte de 500 mil do então prefeito da época Jurandyr Paixão.

“Ele também deu 250 mil ao Gran São João e outros 250 mil para os outros clubes da cidade racharem. Ele era um presidente que amava o esporte da cidade, em especial a Internacional”, destacou.

Benedicto Iaquinta lembra com muito carinho de Vila Levy, o primeiro alçapão da Internacional.

“Foram jogos memoráveis, que chegam a me emocionar. Minha vida foi ali”. Com o título da Série Algodoeira de 1961, o presidente aumentou em 150 metros a arquibancada do estádio.

Inauguração da iluminação

O ex-presidente lembra em especial da inauguração da iluminação em 15/09/1962.

“Trouxemos a Portuguesa e perdemos por 1 a 0. Conseguimos a iluminação graças a uma doação de um milhão do deputado estadual José Adriano Lopes Castelo Branco. As torres foram doadas pelo doutor Darci Gonçalves, que era dono da Pedreira Limeirense. Já a mão de obra foi de Benedcito Saquetti. Todas essas pessoas foram fundamentais para que o nosso estádio recebesse a iluminação”.

Em 1963, Iaquinta afirma que a Inter só não subiu em razão do árbitro Waldemar Fanelli, que segundo ele, marcou um pênalti inexistente em favor da Santacruzense. “Perdemos por 1 a 0 e fomos eliminados”, frisou.

No ano seguinte, outro episódio que tirou o sono do presidente. A Inter disputava o acesso com a Cerâmica de São Caetano. O Leão virou o primeiro tempo goleando por 4 a 1, mas no segundo tempo tomou uma virada histórica: 7 a 4.

“Até hoje eu não engulo aquele resultado. Alguma coisa aconteceu nos bastidores. Fiquei muito bravo”, contou.

Quando a delegação leonina retornou do ABC, Iaquinta anunciou as multas aos jogadores Badê, Derém, Bidon, Norival, Paió, Pitico e Ademar.

“Precisava tomar uma atitude. Foi vergonhoso o que aconteceu”.

Outro fato lamentado pelo então presidente, foi o grave acidente com os torcedores leoninos que estavam se dirigindo para a Usina São João em um caminhão de sua propriedade no dia 26/08/1962.

“Perdemos dois torcedores. Foi um dia muito triste”, se emocionou.

Licença na FPF

Em 1966, a Internacional conquistou o título da 2ª Divisão ao derrotar o Ituveravense por 3 a 1, três gols de Tatão. Com esse resultado, o Leão subiu para a 1ª Divisão ao lado de Sãocarlense, Orlândia e do próprio Ituveravense.

A Inter disputou a 1ª Divisão de 1967 (relativa a Série A-2 de hoje), mas a visita do presidente da Federação Paulista de Futebol, João Mendonça Falcão, em um jogo de Vila Levy daria outro rumo a história do clube.

“Após a partida ele me chamou de lado e disse que só permitiria jogos em Vila Levy neste ano, pois o local não comportava uma Primeira Divisão”.

Após o término do Campeonato Paulista de 1967, Benedicto Iaquinta precisou tomar uma decisão que chateou grande parte dos leoninos.

“Pedi licença na Federação Paulista de Futebol para que pudéssemos construir um novo estádio. Durante sete anos eu paguei todas as taxas da entidade e passamos a disputar apenas o Campeonato Amador. Aliás, conquistamos três títulos”.

Sem poder usar a Vila Levy no Campeonato Paulista, Benedicto Iaquinta formou uma comissão para conversar com a família Levy, dona do terreno onde estava construído o estádio.

“Eu, Antônio Cover, Hercílio Verone, José Alves Toledo e Ari de Castro procuramos os irmãos Levy. Foram várias reuniões na Fazenda Itapema. Algumas varavam até a madrugada. A gente precisava arrumar uma solução para a Internacional e graças a Deus chegamos a um consenso. Nós daríamos o terreno de Vila Levy e em troca receberíamos um terreno maior”, contou.

O terreno escolhido tinha 42 mil metros quadrados, mas o Limeirão usou apenas 31 mil metros em sua construção.

“Por causa do sol, mudamos até a direção do estádio. Ele deixou de ficar na transversal”, lembrou.

Iaquinta lembra que recebeu a escritura do terreno, formou uma comissão e partiu para a construção. O primeiro passo foi viajar para Ribeirão Preto e visitar as obras do Estádio Santa Cruz, que pertence ao Botafogo.

“Queríamos seguir o mesmo modelo. Nessa viagem eu estava acompanhado do Vitor D’Andréa, do doutor Paulo D’Andréa, do João Malamam e do engenheiro Lourenço Leoncini”.

Benedicto lembra que uma empresa de Ribeirão Preto se interessou pelo projeto e enviou um engenheiro de Batatais para analisar o terreno e fazer o levantamento topográfico do local.

“Ficou decidido que o doutor Paulo D’Andréa faria a galeria e a terraplanagem e a Inter ficaria com o resto da construção. Mas não deu muito certo”.

Iaquinta contou que os eucalíptos foram retirados do terreno e a galeria foi feita de forma errônea.

“Fizeram quadrada ao invés de oval. Quando passamos a terra, desceu tudo. Não tínhamos condição de fazer outra galeria. Fiquei inconformado com o serviço mal feito. Peguei a relação dos associados, a escritura e as fotos da obra para levar ao Gecam em Campinas. Mas o Cônego Rossi interferiu e não deixou. Me aconselhou a não denunciar o erro e por isso, acatei”, frisou.

Para que as obras não parassem e a Inter não perdesse mais tempo, Benedito, ao lado de Francisco Bertolini, procurou o torcedor Francisco de Campos, que era proprietário de uma serralheria. Ele forneceu uma madeira ipê para marcar o centro do campo.

O segundo passo foi passar a escritura do terreno para a Prefeitura, para que a mesma pudesse dar prosseguimento as obras, em especial, concluir a galeria. Foi então que surgiu um problema inesperado.

“Quando fomos retirar a certidão negativa de débito, descobrimos uma dívida de 142 mil, referente a administrações passadas. Vendi a iluminação de Vila Levy para o Batatais no valor de 24 mil. Peguei 80 mil antecipado da venda das cadeiras cativas e coloquei 38 mil do bolso. Sendo assim, passamos o terreno para a Prefeitura”, confidenciou.

Iaquinta aproveitou parte da arquibancada de madeira de Vila Levy e deu ao Paulistano. Já as madeiras que não foram aproveitadas, foram para o Asilo João Kuhl Filho, para que fossem usadas no forno a lenha. Em 1975 o Limeirão estava pronto.

Nos 14 anos que foi presidente, fez grandes transações. “Vendi o goleiro Roni para o América/RJ por 50 milhões. O Jurandir foi para o Guarani por 5 milhões. Consegui mais 8 milhões com as vendas de Joaquinzinho para a Portuguesa Santista e Nicanor de Carvalho para o XV de Piracicaba”, lembrou.

Quem foi o melhor jogador?

Na opinião do palmeirense Benedicto Iaquinta, o melhor jogador da história da Internacional foi Ademar, natural de Ribeirão Preto. “Ele era completo. Além de excelente jogador, era um líder em campo. O Tatão é outro que me agradava demais por sua postura e capacidade de finalizar”.

Mágoas

Benedicto Iaquinta guarda duas mágoas da Internacional. A primeira foi que em 1975, depois do Limeirão construído, um movimento surgiu na cidade para retirá-lo da presidência.

“Fizeram tudo pelas costas. Deveriam ter sentado comigo e jogado limpo. Os diretores tinham a obrigação de me procurar, até como forma de consideração por tudo o que fiz pela Internacional. Mas elegeram o Jairo Oliveira, que foi meu amigo. Só fiquei chateado com ele quando disse em uma entrevista na televisão que eu não tinha deixado nada na Inter, nem uniforme rasgado. Eles esqueceram que ficamos sete anos sem jogar o Campeonato Paulista. Como queriam uniforme? O importante é que deixei a presidência sem dívidas. Tudo pago e com a consciência tranquila. Só não achei justo”, desabafou.

A outra mágoa foi após o título paulista conquistado em 1986 diante do Palmeiras, no Morumbi.

“Não me convidaram para as festividades. Nem lembraram que eu existia. Isso me entristeceu demais, afinal, dei minha vida a Internacional. Sei que tive meu papel importante na vida deste tradicional clube”, completou.

Apesar destas mágoas, Iaquinta afirmou que faria tudo de novo, do mesmo jeito e com a mesma condução.

“Tomei decisões acertadas, que beneficiaram o clube. Quando pedi licença na FPF, todos me crucificaram. Diziam que eu tinha matado a Internacional. Mas quando o Limeirão ficou pronto, todos viram que fiz a coisa certa e que a cidade precisava de um estádio maior. Nada como o tempo para mostrar nossos valores”, ressaltou.

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